quarta-feira, 30 de junho de 2010

Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano

Nos dias atuais, podemos dizer que as novas tecnologias da informação e comunicação estão mudando as esferas da sociedade, pois estão mudando a cultura em geral. Os intelectuais, pesquisadores e mestres deveriam se dedicar a criar conceitos que fossem capazes de nos levar a entender de forma mais efetiva as complexidades dessa realidade que muda o tempo todo.
A chamada cultura das mídias não se confunde nem com a cultura de massas, nem com a cultura virtual. Ela seria uma intermediária, situada entre as duas. As transformações culturais são devidas ao advento de novas tecnologias, e novos meios de comunicação e cultura, mas essas transformações também são devidas aos signos que circulam, pelos tipos de mensagens e processos de comunicação. Isso porque são eles que moldam o pensamento e a sensibilidade dos seres humanos, além de propiciar novos ambientes socioculturais.
McLuhan colocou ênfase nos meios, insistindo na impossibilidade de se separar a mensagem do meio, por esta ser determinada muito mais pelo meio que a vincula do que pelas intenções do seu autor.
As mídias são meios, e como tal são suportes materiais, nos quais as linguagens se corporificam e através dos quais transitam. E mesmo sendo responsáveis pelo crescimento e multiplicação dos códigos, continuam sendo meios.
É importante deixar claro que as eras culturais vão se integrando uma na outra, provocando reajustes e refuncionalizações. Em cada período histórico, a cultura fica sob o domínio da técnica ou da tecnologia de comunicação mais recente. Mas esse domínio não acaba com as formações culturais preexistentes. Isso porque a cultura comporta-se como um organismo vivo, e, sobretudo, inteligente com poderes de adaptação imprevisíveis e surpreendentes.
Muitos autores tem considerado a cibercultura como uma continuidade da cultura de massas, mas deve-se reconhecer uma fase transitória entre elas, que seria o reconhecimento da cultura das mídias. Isso é substancial para compreender a própria cibercultura.
No início dos anos 80, os casamentos entre as linguagens e os meios começaram a se intensificar, tornando-se um multiplicador de mídias. Nessa mesma época, surgiram de equipamentos e dispositivos que possibilitaram o aparecimento de uma cultura do disponível e do transitório: fotocopiadoras, videocassetes, e aparelhos de gravação de vídeos, equipamentos do tipo walkman e walktalk, acompanhados de uma remarcável indústria de videoclips e videogames, juntamente com a expansiva indústria de filmes em vídeo para serem alugados nas videolocadoras, tudo isso culminando no surgimento da TV a cabo.
Foram esses meios que acabaram com a inércia do recebimento de mensagens impostas de fora, a acabaram por nos treinar para a busca da informação e do entretenimento que desejamos encontrar.
A nova mídia não é mais a mídia de massa no sentido clássico do envio de um número limitado de mensagens a uma audiência homogênea de massa. Devido à multiplicação de mensagens e fontes, a própria audiência torna-se mais seletiva, tendendo a escolher suas mensagens, assim aprofundando sua segmentação, intensificando o relacionamento individual entre o emissor e o receptor.
Embora a cultura de massas e a cultura digital convivam em um caldeirão de misturas, cada uma tem caracteres próprios e que precisam ser distintos. Mas essas diferenças não podem nos levar a deixar de lado o fato que hoje vivemos uma verdadeira confraternização geral de todas as formas de comunicação e cultura.
O computador vem recodificando as linguagens e as mídias, isso sem contar com criação de suas próprias formas de arte, a relação entre imersão e velocidade, a dinâmica frenética da WWW, com seus sites que pipocam e desaparecem como flores no deserto, a vida ciborg, o potencial das tecnologias versus a viabilidade do mercado, os mecanismos de distribuição, a dinâmica social dos usuários.
A contextualização desses novos processos de comunicação nas sociedades do capitalismo globalizado são alguns dos temas que aparecem na ponta do iceberg, deixando entrever as complexidades que aí residem.
Segundo Heim, o impacto do computador sobre a cultura e a economia tem dividido os críticos em três tipos de reação: de um lado, os realistas ingênuos. Estes tomam a realidade como aquilo que pode ser experiência do imediatamente e alinham os computadores com os poluidores que são joga dos no terreno da experiência pura, não mediatizada. De outro, os idealistas das redes. Estes consideram o mundo das redes o melhor dos mundos e apontam para os ganhos evolutivos da espécie. E por fim, os céticos. Convictos de que as tentativas para compreender o processo, não importa quão inteligentes elas possam ser, são inócuas, eles insistem que o ciberespaço está atravessando um processo de nascimento muito confuso.
Na medida em que as telecomunicações e os modos acelerados de transporte estão fazendo o planeta encolher cada vez mais, na medida mesma em que se esfumam os parâmetros de tempo e espaço tradicionais, assume-se (ele não entendeu essa palavra) uma via de regra, que as tecnologias são a medida de nossa salvação ou a causa de nossa perdição.
A cibercultura, tanto quanto quaisquer outros tipos de cultura, moldam nossa sensibilidade e nossa mente, muito especialmente as tecnologias digitais, computacionais, que são tecnologias da inteligência.
As máquinas estão ficando cada vez mais inteligentes e mais parecidas com o ser humano, e não o contrário, fazendo com que seja possível imaginar que a interface última entre o computador e as pessoas estará voltada para o corpo humano e os sentidos humanos.
A expressão póshumano tem sido usada para sinalizar as grandes transformações que as novas tecnologias da comunicação estão trazendo para tudo o que diz respeito à vida humana, tanto no nível psíquico quanto social e antropológico. Há alguns autores que até defendem a ideia de que se trata de um passo evolutivo da espécie.

Nenhum comentário:

Postar um comentário