quarta-feira, 30 de junho de 2010

Comunicação Praxiológica

A autora Vera França aproxima o modelo praxológico de L. Queré da comunicação das contribuições do dialogismo de Bakhtin e da epistemologia da complexidade de Morin e, em seguida, procura demonstrar o alcance do seu poder analítico.
Segundo a autora, o debate se reveste da crítica ao chamado “paradigma clássico” ou informacional, que marcou a grande parte dos estudos sobre os processos comunicativos ao longo do século XX. Esse paradigma, que identifica a comunicação com um processo de transmissão de informação, marcado pela linearidade, funcionalidade e busca da eficácia, tem recebido reiteradas e severas críticas no sentido de apontar suas limitações e mesmo entraves ao processo de conhecimento.
Não é possível ainda dizer que já estamos nos marcos de um novo paradigma – com o que isto significa, em termos de aceitação ampla por parte da comunidade científica e reordenação das problemáticas de estudo. O quadro ainda é marcado pela dispersão das pesquisas, a inexistência de um princípio organizador das teorias, a insuficiência dos desdobramentos metodológicos. Mas os elementos que indicam a formulação de um novo caminho já vem sendo apontados por essas diferentes contribuições. Parece-nos que é aí que se inscreve o esforço de Quéré.
Ele promove uma boa sistematização desse debate e delineia de forma interessante os contornos e as questões que pontuam uma nova perspectiva – aquilo que seria um novo paradigma comunicacional.
Quéré distingue e contrapõe dois modelos básicos: A epistemológica, que é um modelo informacional; e a praxiológica, que é a cosntrução social da realidade.
A comunicação deixa de pertencer à esfera do conhecimento, da episteme, do domínio das apreensões constituídas e adquiridas, e se insere na esfera da ação, da intervenção e da experiência humana – tomada da sua dimensão social e simbólica.
O modelo informacional atribui à comunicação um papel instrumental e transmissivo: os sujeitos e sobretudo os conteúdos sob a forma de mensagens. De forma bem distinta, no modelo praxiológico a comunicação cumpre um papel de constituição e de organização.
Entre os dois modelos há uma distinção entre um sujeito monológico e o sujeito dialógico. O modelo epistemológico adotaria uma concepção representativa da linguagem, ou seja, uma linguagem que pretende dizer o mundo e, na sua construção, substituí-lo.O modelo epistemológico, em síntese, projeta uma dualidade: o mundo e a comunicação.
Já no modelo praxológico, a comunicação se desveste de seu caráter instrumental, posterior aos fatos e às intenções, e passa a ser vista como lugar de constituição dos sujeitos.
Nesse debate, Quéré questiona o movimento empreendido pelas ciências da comunicação de circunscrever e isolar, “fechar sobre si mesmo os processos da comunicação, para fazer deles uma ordem de fatos particulares da sociedade”. O autor defende que os processos comunicativos não correspodem a um domínio de fatos particulares no espaço social.

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